Nunca fui uma pessoa que falasse muito, apenas conversava com aqueles que tinha intimidade, os mesmos por quem compartilhava minhas risadas. Por ser mais quieta, desenvolvi o hábito de observar. Observava tudo ao meu redor, me atentei a prestar atenção nos momentos que me cercavam.
Ao me tornar a observadora, comecei a notar até os mínimos detalhes. É observando que prestamos atenção no ambiente, nas pessoas e em seus comportamentos, criamos um elo de simpatia com o que olhamos. E acabamos desenvolvendo nossa vivência a partir da perspectivas dos outros enquanto nos esquecemos de agir por vontade própia.
O ato de observar pode nos fazer sentir diferentes emoções e sensações, como analisarmos momentos que trazem nostalgia, alegria, aqueles que ficam guardados na memória. Também podemos presenciar um momento de desconforto, tristeza, aqueles que nos arrependemos de ter ouvido ou escutado, mas que permanecem lembrados, para que em algum momento sejamos capaz de refletir intimamente.
Será que as pessoas me enxergam também?
Ser a observadora na maior parte do tempo me faz questionar se tudo e todos que analiso prestam também atenção em mim. Fico tão imersa em guardar momentos bons que esqueço de viver.
Quero ser vista, quero fazer parte de algum momento engraçado, nostálgico que alguém presenciou, desejo sentir um olhar em minha direção de interesse quando eu estiver falando, quero me sentir especial na visão de outra pessoa.
Entre todos esses pensamentos, no fundo também acredito na possibilidade de um observador ser observado. Creio que até em pequenas ocasiões conseguimos a atenção de uma pessoa, a inspirando de alguma forma, compartilhando uma história, criando uma relação que pode ficar guardada na memória de alguém e nem sequer imaginamos essa possibilidade.
Ser uma pessoa observadora é importante para entender que existem ainda muitos problemas ao nosso redor para serem resolvidos, e que tais momentos de satisfação acontecem mesmo que sejam mínimos.
Em vida, observo muito, sou ativa nas observações, tenho o senso do ridículo, do bom humor, da ironia, e tomo um partido. - Clarice Lispector.
Ser solitária te faz ser observadora, parece que todo mundo tá vivendo e sendo protagonista da própria vida enquanto você é apenas um espectador.
Eu sou muito falante, mesmo assim sou extremamente observadora. Acredito que não preciso ser quieta pra ser assim, eu noto cada detalhe de cada pequena coisa por mais cotidiana que seja, eu noto pequenos atos das pessoas que conheço e das que desconheço. Quando uma pessoa disse que ama minha autenticidade, quando outra diz que se sente mais alegre comigo, e quando outra diz que meu cabelo está lindo, eu percebo que todos somos observadores (seja de forma extrema ou nao). Os observadores também são observados, afinal todos temos olhos